terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Rainha Beatrix, o príncipe herdeiro, Portugal... alguma coisa aqui não está a fazer sentido.

A rainha Beatrix da Holanda abdicou do trono para o seu filho e príncipe Williem-Alexander, a noite passada, tendo afirmado que estava na hora de "dar lugar às novas gerações" e que tanto o príncipe herdeiro e a nora estão "prontos para assumir essas responsabilidades".

Beatrix dos Países Baixos, assim reconhecida internacionalmente, nasceu em Baarn,  na Holanda, no dia 31 de janeiro de 1938. Foi corada rainha em 1980, após abdicação da mãe, a rainha Juliana, e vai dar coroar como rei o seu filho primogénito a 30 de Abril deste ano, no dia em que se comemora o dia da rainha na Holanda. Ficou também muito conhecida pelas leis pioneiras que tornaram o país holandês como o mais liberal do mundo: a legalização da eutanásia, do aborto, da prostituição, do consumo de drogas leves e do casamento e adopção para casais homossexuais.

Embora os holandeses já esperassem por este comunicado de Beatrix, a renúncia ao trono veio reforçar a ideia de que o novo rei irá representar bem uma nova geração com novos interesses e novas soluções para o país. Além disso, Williem vai ser o primeiro rei da Holanda desde o fim do século XIX.

Os Países Baixos são governados por uma monarquia constitucional independente desde a constituição de 16 de Março de 1815. Como se pode ler na Wikipedia:

"Na linha de sucessão ao trono holandês, existe igualdade de primogenitura. Ao contrário de outras monarquias da época, a Lei Sálica não foi aplicada nos Países Baixos desde a concepção da monarquia em 1814. A Constituição de 1814 estabelece que o filho mais velho do monarca iria sucedê-lo, e caso não existisse filhos, passaria para os irmãos do monarca. Só quando houvesse uma completa falta de homens na família mais próxima, seria a filha mais velha do monarca a lhe suceder. A Constituição de 1887 alterou ligeiramente, para que pudesse também ser incluídas as filhas dos irmão do monarca. Em 1983, os Países Baixos aprovou integralmente a primogenitura linear e igualitária entre os sexos (o filho mais velho é herdeiro)".

Uma interessante maneira de verificar a forma de governar de um povo aqui quase ao lado. Embora não seja adepta das monarquias, seja qual for o sistema que nela se integra, este regime tem sido muito acarinhado pelos holandeses e emigrantes que lá vivem. O que sustenta a minha tese de que o importante, antes de tudo o mais, é saber governar um povo, fazendo-os respeitar as leis do país e dando-lhes o que precisam para serem felizes.

Não me converteria tão facilmente ao facto de trocarmos o Dr. Aníbal Cavaco Silva pelo D. Duarte Pio, duque de Bragança. Ainda que estejam numa linha semelhante, existem grandes diferenças entre um e outro. Contudo, e embora algumas vozes se façam ouvir em contrário, um chefe de estado deveria fazer-se ouvir mais vezes e intervir mais nos assuntos que passam pelas suas mãos. É que em Portugal confundimos muito o sentido de intervir com o ser protagonista ou antagonista. Há quem defenda que o Presidente da República representa apenas mais uma peça ornamental do jogo e, por isso, deve cingir-se às suas funções de árbitro da partida. Embora Cavaco Silva seja o chefe de estado de Portugal com mais vetos políticos da história da nossa república, está longe de representar o povo português. E ainda assim foi o eleito democraticamente pela maioria (discutível).

Beatrix faz 75 anos, Cavaco faz 74. Ambos acompanharam diferentes gerações e diferentes problemas de ordem política, económica e social. Holanda é um pais teve de se refazer do pós-guerra, recriando cidades devastadas pela guerra e libertando-se de estigmas para que os seus habitantes vivessem em liberdade e harmonia. Portugal é um país que se teve de refazer do domínio fascista e que utilizou os apoios financeiros europeus para o seu desenvolvimento a nível de obras públicas, bem como para encher os bolsos a uma classe política e banqueira bem conhecidas.

A diferença está entre os dois regimes políticos das nações que Beatrix e Cavaco representam? Sim e não. Enquanto uns trabalhavam para o progresso do seu país, outros foram destruindo internamente o seu país ao desviar dinheiros públicos até não poder mais, com políticas inapropriadas para o crescimento da economia e a aumentar burocracias que entopem os tribunais. A propagação desse sistema corrupto ao longo dos anos é que originou estas fissuras tão grandes que são, no incomparável (pois um é eleito por sufrágio e outro é eleito hierarquicamente), precisamente comparáveis nestes termos entre sucesso e fracasso, sistema funcional e sistema corrompido. Ou seja, Holanda e Portugal.

Estará na hora de dar lugar às novas gerações? É que em Portugal temos vindo a verificar (impossível de não sentir na pele) com o mandato de Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro português, que as esperanças de Beatrix não funcionaram muito bem connosco ("dar lugar às novas gerações", "prontos para assumir essas responsabilidades"). Estará a Holanda a tomar as rédeas de uma nova fase política inovadora e próspera ou Portugal a dar sinais de incapacidade política, económica e intergeracional?

Sem comentários:

Enviar um comentário