quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tenho dificuldade em começar a escrever...



Uma das expressões que mais ouvi durante todo o meu percurso escolar e académico, foi exactamente esta: "tenho dificuldade em começar a escrever".

Como forma de desmistificar este "papão das palavras", resolvi abordar a questão que a muitos incomoda e a outros tantos serve de desculpa para não escrever. Parte dos fundamentos que apresento em seguida, baseiam-se na frequência de um workshop de "escrita criativa" que realizei há uns meses, algo que me ajudou a compreender melhor o processo da escrita.

Assim sendo, não é a dificuldade de escrever que atormenta muita gente, mas sim a organização de todas as ideias que surgem num dado momento em que se vai escrever. O início deste processo é que constitui o ponto fulcral de todo o texto que se vai desenvolver em seguida. Tudo depende do tipo de narrativa que se pretende. Por exemplo, a estrutura de uma notícia é diferente da estrutura de um conto infantil, de uma carta, de um guião, de um relatório, de uma letra de música, e por aí adiante... Só após a escolha/definição do género literário é que se deve pensar o tema e a forma de o abordar, conhecendo e respeitando as normas para redigir tal texto.

Agora sim, vêm as indecisões e dúvidas existenciais. "Vou escrever isto. Hmm... é melhor não". "Ah, isto é capaz de ser boa ideia...  mas quem é que vai ler ou gostar disto?". "Tenho uma ideia brutal!!!... mas como é que eu explico? Bah, esquece". Até que... "Não tenho ideias para escrever, desisto".

Em primeiro lugar há que esclarecer que ninguém nasce a ter "ideias brutais" ou "escritos fantásticos". O processo da escrita é um processo de maturação de ideias, sejam eles factos, juízos ou ficção. É necessária tranquilidade e confiança naquilo que se pretende transmitir. Claro que há textos em que o tempo determina tudo, logo a criatividade é mais reduzida. Estou a falar das notícias e actualização de informações que não têm espaço para grandes invenções ou originalidades. Mas a outra grande parte de tipos de texto que existem merecem sempre uma atenção especial e uma revisão para que nada fique ao acaso e tudo faça sentido. Os escritores de livros, por exemplo, levam anos a fio para redigirem uma obra literária, tal como os grandes guionistas levam anos a redigir um bom guião. Tudo depende também da alma do artista, mas por natureza, as ideias precisam ser desenvolvidas para criar maior impacto no leitor, público alvo que todos os tipos de texto têm em comum.

A reflexão a retirar daqui, e apesar de muito generalista, é que a maior parte das pessoas se acomoda com a justificação "tenho dificuldade em começar a escrever" para, como em muito bom português se diz, "engonhar" ou simplesmente passar a "batata quente" a outro. Esta desculpa não é mais do que uma forma dos preguiçosos não fazerem o que lhes compete ou adiarem, como é hábito dos portugueses.

E essa foi uma postura que adoptei desde que entrei no ensino superior. Os trabalhos académicos que exigem uma escrita muito rigorosa e científica retiraram-me toda e qualquer inspiração para escrever poesia. Parecia que nada me surgia naturalmente, não tinha assuntos sobre os quais falar, e muitas vezes só a vontade de pegar num lápis "era tanta" que me ficava pelo pensar que poderia ter aproveitado esse tempo para poetizar e acabava por gastá-lo a não fazer nada.

Desde que acabei o curso de Comunicação Social, ramo jornalismo (que sempre exigiu muito rigor e escrita somente factual para a redacção de notícias), comecei a ouvir falar na nova geração de bloggers. Não só anónimos, mas pessoas conhecidas pelo seu trabalho que transmitem periodicamente as suas opiniões num blog individual e próprio para o efeito, à parte do seu trabalho/profissão. Fiquei curiosa, e ainda andei a espreitar alguns blogs de política e de desporto, mas rapidamente me cansei e só a preguicite de ter de escrever, levou-me a desistir da ideia. Também redigi duas crónicas no Homilítico (blog que criei para falar sobre política [mas a pensar seriamente em recuperá-lo]), mas dois posts chegaram para a "veia artística" se ir.

Porém, hoje, após a maturação de algumas ideias, decidi aventurar-me nesta blogosfera. Tenho como perspectivas principais, desenvolver a minha forma de escrita e construir um olhar opinativo sobre determinadas questões. Este crescimento, tenho a certeza, irá contribuir para as próximas vezes em que tiver de escrever um press-release ou uma notícia. Convido-vos desde já a manterem-se atentos aos próximos posts e, se a demora for muita, dêem-me uma "abuzinadela" para eu cumprir com o propósito deste blog

Já agora, se tiverem blogs mandem-me os vossos links para eu seguir. E se não têm, do que estão à espera? Sigam o meu exemplo (finalmente, a servir de exemplo) e lancem essa escrita. A diferença só é comparável após a mudança. 

Vamos ver se o "tenho dificuldade em começar a escrever" não se transforma em "tenho dificuldade em parar de escrever"!

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