Não fosse esta frase ser totalmente descabida e de um nojo inexplicável, tinha passado despercebida por entre as várias asneiras que o senhor tem dito nos últimos tempos.
É preciso fazer-lhe recordar que estamos em pleno século XXI. Sei que a sua área profissional pertence à economia e às finanças, o que em senso comum lhe chamamos de «números», mas já alguma vez ouviu falar de um documento importantíssimo chamado "Declaração dos Direitos do Homem"? Eu sei que não pertence à área das letras, e que não faz nada o seu género, mas no artigo 2.º desta declaração explicitam-se, muito claramente, direitos que a todo o ser-humano pertencem e que o senhor não se deve ter lembrado (será que alguma vez ouviu falar?) quando literalmente os atropelou na sua intervenção. Pois se não se recorda, passo a citar: "Art. 2.º (...) Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão".
Estará recordado agora? É que propriedade é um direito. Como ousa referir os sem-abrigo como exemplo de equilíbrio para a economia portuguesa? O uso que deu à condição de sem-abrigo deveria ser punida, pois o senhor está a querer colocar todos os cidadãos portugueses na mesma situação, sem um pingo de vergonha, em vez de ajudar com os brutais milhões de lucro que obteve com os juros dos impostos que os portugueses pagaram e pagam todos os dias para que o seu banco estivesse hoje recapitalizado e em alta.
Só pode estar a ter alucinações. Pois eu tenho a solução para o seu problema. Já que não se importa de aguentar a austeridade, sugeria-lhe que realizasse uma espécie de intercâmbio cultural. O primeiro passo poderia começar por dividir o seu mísero salário com todos os sem-abrigos e, em seguida, oferecer-lhes o seu tecto. E para que fosse uma experiência mesmo à séria, passaria a dormir ao relento, ao frio e à chuva, procurando comer pelos latões do lixo da cidade. Parece-me inesquecível, e vejo que está cheio de vontade de se aguentar à bronca.
Pois força, de certeza que todos o apoiariam. Só não se esqueça de uma coisa ainda mais importante que tudo isto: durante esse intercâmbio pelas ruas de Portugal, aprenda a ser humilde e, sobretudo, a não dizer nem pensar mais asneiras destas.
Longe de apoiar o Ulrich, também não acho bem entrar em exageros. Ele não disse que queria que toda a sociedade se tornasse sem-abrigo, apenas referiu que há possibilidade de mais austeridade e que os portugueses teriam que aguentá-la se não houver crescimento económico.
ResponderEliminarSegundo, é verdade que o BPI lucrou com a dívida portuguesa, como qualquer um de nós poderia lucrar se comprasse. O banco até arriscou comprar dívida, numa altura em que havia possibilidade de entrarmos em bancarrota e agora lucrou porque vendeu parte da dívida que tinha. Nada de estranho, julgo eu.
Terceiro, apesar de não ser apoiante de recapitalizações bancárias ou de se meter dinheiro dos contribuintes em negócios falidos privados, a verdade é que o BPI já tem pago de volta parte da recapitalização (200 milhões, salvo erro).
A explicação que Ulrich arranjou não foi nada feliz, diga-se de passagem. Deve vir aí mais austeridade com certeza, pois ninguém oficialmente conseguiu afirmar que a partir de agora não haveriam mais medidas difíceis.
ResponderEliminarSimplesmente podia ter pegado por outro exemplo. Este foi demasiado cruel, mexeu na ferida social e na dignidade das pessoas que são sem-abrigo e daquelas que, como ele afirmou, podem vir a ser amanhã também. A forma como ele disse isso leva a querer que é uma coisa perfeitamente normal e banal. O que não é de todo.
Um banco comprar dívida do estado não me espanta, o que me deixa perplexa é o orgulho deste senhor que fala de boca cheia, que está a lucrar com o mal de uma nação inteira e se exibe publicamente como se nada fosse. Tudo bem que tenha as suas recompensas por ter investido, claro, foi um bom negócio. Mas nós também investimos no BPI e não crucificámos os seus administradores e gestores, nem exigimos medidas de austeridade dentro desse banco, ou muito menos lhes dissemos que se aguentassem e limitassem a viver com as esmolas que são os salários/subsídios de hoje em dia, como se isso fosse uma sorte. Até porque esses senhores e o Ulrich não recebem um ordenado mínimo, não sabem o que é isso, não precisam e na verdade nem querem saber. E até porque o povo não tem tido pulso firme, tem se limitado a abanar a cabeça nestas situações e a aceitar recapitalizações desta natureza.
O BPI está a pagar de volta a recapitalização, mas a base está nos juros e comissões que retiram às pessoas na mesma. Por isso muitas, estão a pagá-lo pela segunda vez e ainda têm de ouvir afirmações deste género.
Achei escusadas estas declarações, mas é só a minha opinião e vale o que vale. Obrigada pela contribuição Henrique.
Isso não é verdade. O BPI está a pagar de volta, com base em austeridade imposta pelo Estado, como podes ver pelas remunerações cortadas dentro do banco, mesmo ao Ulrich.
ResponderEliminarE ainda para mais, o banco lida com rácios de capital apertados, devido às imposições da EBA e dos acordos de Basileia. Nem tudo nos bancos é fácil, ao contrário do que se pensa. Há muita coisa mal feita, claro. Mas não são o Alfa e o Ómega do pecado.