quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
A cultura cultiva-se
É espantoso como determinadas pessoas sabem tanto sobre determinados assuntos. Dá gosto conversar com esse tipo de pessoas que sabem um pouco de tudo e, sobretudo, sabem manter uma conversa agradável. Nada cá de espertinhos com a mania que sabem. Estou a falar mesmo daquelas pessoas que se poderia ficar horas e horas a ouvir falar com toda a vontade do mundo, e de queixo caído.
Mas a cultura tem muito por onde se pegue.
Literatura, teatro, cinema, artes performativas, artes plásticas e visuais, etc, etc, etc... Era capaz de me ver profissionalmente em qualquer um destes mundos e ser feliz por isso. (Bem, retirando a parte das artes plásticas e visuais porque realmente não são o meu forte, mas que muito admiro e cada vez mais tenho vontade de aprender sobre). Mas sou apenas uma dandy nestes mundos. Tenho os meus interesses e aprecio aquilo que tenho vindo a conhecer.
Gostava de ser escritora. Desde cedo que esse bichinho me acompanha. Escrevia poesia e letras de música, mas com o iniciar da idade adulta deixei-me disso. Escrever sobre mim ou o que me rodeava estava a entedear-me. Talvez porque os nossos processos de mudança não nos permitam avaliar ainda o que está a acontecer, nem o que mudou. Então virei costas à escrita e disse-lhe um "até já", que ainda hoje me faz pensar se não foi uma despedida escusada. Entre estas mudanças perdi trechos que me fariam reflectir e avaliar todas as situações porque passei. Mas não me destinei a tal e, por isso, regressar agora aos poucos já é uma vitória.
Não me lembro de ter comprado um livro com o propósito de me enculturar, tirando os livros de Uma Aventura ou o Memorial do Convento, exigidos na escola. É estranho sempre ter tido o gosto pela escrita e nunca ter tido a curiosidade de ler e conhecer outros autores. Da primária ao último ano do ensino básico, nunca nenhum professor disse na sala de aula que deviamos ler e cultivar novos conhecimentos. Nunca nenhum professor se disponibilizou a levar a turma à biblioteca e mostrar as diversas actividades que lá poderíamos encontrar. Nunca nenhum professor nos ensinou a sermos cultos. E se por um lado penso que realmente não têm obrigação de o fazer - porque esse bichinho deve vir de nós próprios e devemos ter a curiosidade de aprender o que é o mundo lá fora - por outro acho que os professores que tive durante nove anos de ensino básico se limitaram a debitar algumas coisas que eles próprios decoraram, e nem deviam saber bem o que estavam para ali a dizer. Se bem me lembro, eram mais as vezes que estávamos em feriado do que na sala de aula.
Mas pronto, isto tudo para dizer que - e sem intenção de estar aqui a criticar antigos professores - quando cheguei ao secundário, conheci um professor que fez toda a diferença. Ainda que não tivesse efeitos imediatos, constituiu uma referência que marcou a minha forma de estar perante as pessoas, os conhecimentos e as coisas. Era bastante culto. Sabia tudo o que lhe perguntássemos. Tinha classe, era um homem que sabia estar e, acima de tudo, tinha presença e sabia o que estava a dizer. Fascinou-me durante 3 anos o facto de uma pessoa ser tão culta. Pensava para mim como é que é possível alguém ter este conhecimento todo?. Nunca na vida iria chegar aos calcanhares deste senhor, nem sequer seria capaz de ler todos os livros que este homem já leu ou conhecer os lugares que ele já conheceu na vida dele. Parece que me estou a lembrar do primeiro dia de aulas... uma lavagem cerebral de todos os livros que já deviamos ter lido até ao 10º ano, e ninguém na turma tinha sequer ouvido falar sobre tais obras... Elíada e Homero? Que raio de nomes.... pensei logo. E ainda não os li. Sem tempo, sem vontade, sem curiosidade... na altura. Mas hoje tenho o desejo de formular um saber literário devidamente composto e ter estas referências como base. Creio que em breve já terei condições de formular um post sobre estas obras.
Entretanto, o choque que se sente está na primeira vez em que se mete os pés numa sala de aula do ensino superior. A preparação, isto é, o saber estar e as aprendizagens que devíamos trazer do secundário são, afinal, muito escassas comparativamente ao que é exigido no nível superior. E somos confrontados com mil e quinhentos autores e obras e citações sem fim.
Porém, quando chegamos ao mundo do trabalho (e principalmente agora nos tempos que correm) encontramos duas novas realidades. Afinal tudo o que aprendemos não serve de nada em determinadas ocupações e, noutras situações, o que sabemos é muito pouco para aquilo que é exigido.
Agora, embora com um curso superior, sinto-me ainda mais inculta que muitas pessoas, algumas mais novas, outras mais velhas. Não conheço parte das obras literárias mais famosas, lá reconheço um outro nome de realizadores de cinema mas não sei referir que filmes realizaram, já domino algumas técnicas de interpretação das artes performativas mas não chego aos calcanhares dos que se profissionalizaram nessa área, também já me predisponho a observar obras de arte (fotografias, pinturas esculturas) e a tentar interpretá-las mas achando que ainda conheço pouco da área...
Enfim, sei um pouquinho de tudo mas na realidade não sei nada. E não faço parte daquele grupo de pessoas que dá gosto de ouvir, porque não domino realmente estes temas. Mas pelo menos já percebi que me integro naquele grupo de pessoas que sabe e tem muito jeito para ouvir. E isso, já é uma coisa boa. O contacto com outras pessoas já me trouxe muitas alegrias e transformou o meu saber. Não preciso ser pró numa determinada questão, mas se sou nem eu própria sei. Apenas penso que devo continuar com o meu livro de páginas brancas em aberto, para que, por mim e/ou por outros, possa vir a saber sempre mais e um dia tornar-me num tipo de pessoa que sempre quis ser: alguém que sabe de tudo um pouco, sabe conversar, sabe estar e dá gosto ouvir falar. E isso não está longe nem é impossível se não deixar de cultivar a minha cultura.
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