A palavra manifestação tem sido cada vez mais utilizada em substituição da palavra protesto, como se de um sinónimo se tratasse. Com as devidas semelhanças e diferenças, esta tarde, ouvi da boca de um jornalista que, se não soubesse que o era, diria muito provavelmente que tinha sido um Ricardo Araújo Pereira, um Nilton ou um Pedro Mexia, uma expressão que parecia mais uma anedota dessas que se consomem e propagam pelas redes sociais, com direito a imagem composta por intervenientes e balões com falas.
Mas não, não era um comediante. Era um repórter da RTP1, em directo, a acompanhar o protesto dos professores, contra o governo e o FMI, que estava a decorrer em Lisboa. Uma manifestação que começou atrasada, para que eles vejam se não é o português que manda aqui. Após ter entrevistado uma docente com 20 anos de exercício profissional, que defendeu o ensino público com unhas e dentes, o jornalista terminou a conversação com uma expressão que devia ficar para a história dos directos dos media portugueses.
Eis o meu espanto quando oiço o jornalista dizer: «Muito obrigada e boa manifestação!».
«Boa manifestação»???! ...
Já todos sabemos que as manifestações sociais, como o próprio nome indica, envolvem pessoas que em comum lutam pelos mesmos direitos, ou em parte semelhantes. Existem muitos cânticos de protesto e palavras de ordem em cartazes e outras palavras menos elegantes proferidas mais alto. Se estão furiosos gritam e choram desalmadamente. Se estão muito entusiasmados, provocam polícias e fazem estragos por onde quer que passam. E se estão apenas para ver o acontecimento e acrescentar mais um número na lista dos presentes, levam as suas bejecas ou uma câmara fotográfica. E quando as manifestações se tornam constantes, muitos travam novos conhecimentos.
De facto, o senhor jornalista até que não disse nenhuma asneira. Em tudo se assemelha a uma festa. E se não fosse o facto de determinadas pessoas já se encontrarem no limite das suas forças, para tentar demonstrar através do seu protesto que já não aguentam tantas medidas estapafúrdias, até tinha tido o seu cunho de graça e de poder de intervenção naquele momento.
Mas não. «Boa manifestação» não é igual a «boa festa» e em jornalismo há que ter cuidado com as expressões que se utilizam. Apesar de ter a sensação de que a professora em questão agradeceu ao jornalista, eu agradeço aos jornalistas que em caso de não saberem o que dizerem, simplesmente não digam nada. Um chavão cunha uma pessoa para a vida inteira e determinadas situações são ridicularizadas com essa expressão. E eu não gostaria que uma acção tão séria como manifestar fosse confundida com o verbo festejar.
Sem comentários:
Enviar um comentário