terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As vítimas do fogo de artifício e da boate sem alvará

A tragédia que ocorreu na madrugada entre 26 e 27 de janeiro, numa boate nocturna do Brasil, que ditou a morte de mais de 200 pessoas (quase todas estudantes da universidade local), tem sido bastante divulgada pelos meios de comunicação social nacionais e internacionais. O falecimento, por si só, é uma matéria dolorosa e psicologicamente difícil de dirigir. E o acontecimento, por si só, tem contornos únicos que fizeram com que a lei, os media e as sociedades determinassem o debate sobre este assunto como prioritário durante estes dias.

Tudo ocorreu por volta das 2h30 da noite de sábado para domingo. A Boate Kiss constituia o local escolhido para a festa "Agromerados" dos estudantes da Universidade  Federal de Santa Maria, com um cartaz de artistas  bem ao gosto dos universitários. A Gurizada Fandangueira, uma das bandas mais sonantes do cartaz, é conhecida pelos efeitos visuais e pirotécnicos nos seus espectáculos. E tudo indica que foi durante a actuação desta banda que o incêndio que provocou a morte de 232 estudantes deflagrou. Sobreviventes da tragédia referem ter sido após o início do lançamento do fogo de artifício que o tecto começou a incendiar e se propagou pelo resto da sala, bem como o fumo e o pânico dos presentes.

A boate onde tudo aconteceu não tinha licença desde Agosto passado. Estaria, por isso, obrigada por lei a não abrir portas ao público. Porém, isso não aconteceu e a prova de que se consegue contornar a lei está aqui. De Agosto a Janeiro vão cerca de cinco meses de funcionamento ilegal, sem qualquer tipo de problema. Além disso, testemunhos do incêndio dizem ainda que o espaço estaria com sinalética errada, apontando a saída de emergência para as casas-de-banho, ou seja, para o lado errado da única saída existente no espaço. Outros afirmam também que essa única saída esteve bloqueada ao início pelos seguranças, como forma de obrigar os estudantes a fazerem o pagamento antes de abandonarem o local.

A fiscalização dos estabelecimentos nocturnos nem sempre são efectuados e seguidos à letra. O dono da Kiss, no seu depoimento, afirmou que não tinha alvará legal mas que estava em processo de renovação. Ora isto, a ser verdade, precisa ser revisto e analisado aos olhos da lei para que sejam aprovadas responsabilidades. Bem como o facto da utilização de materiais de pirotecnia, pelos membros da banda, em locais públicos fechados.

Não consigo imaginar o caos e o pânico daqueles jovens... O tentar fugir sem saber para onde, o querer sair sem ser permitido, a dificuldade em tentar ter sangre frio e evitar a inalação do fumo, a preocupação de não deixar os seus para trás... E tudo isto multiplicado por cada pessoa que estava presente a fugir para todas as direcções e aos gritos e aos encontrões e... entre mortos e vivos, a tentar lutar pela sua sobrevivência.

O Brasil acordou na manhã seguinte em choque pela notícia. O luto foi decretado, a bandeira ficou a meia-haste e os pais das vítimas, bem como o país, choraram a morte dos jovens universitários que estariam supostamente, e apenas, a divertir-se numa festa.

E é por ser um caso que, ao ser repensado nas mesmíssimas condições num bar/discoteca de Lisboa, e a ter o mesmo desfecho, me preocupa ainda mais. Porque não é impossível e não está longe de um dia vir a acontecer. Somos um povo mais pacífico, até mesmo nas festas. Mas locais públicos fechados há a pontapés, assim como má sinalética e pouca segurança também. É certo que ninguém consegue prever acidentes destes, mas é sempre possível tentar evitar determinadas situações. Um concerto com pirotecnia precisaria de uma segurança ajustada, ou pelos menos, nunca deveria ter sido efectuado num espaço daquelas dimensões e fechado. E não é preciso ser-se muito esperto para perceber o porquê. O resultado ficou à vista.

E de quem é a culpa? Do dono sem alvará, do membro da banda que lançou os foguetes, dos fans da banda que aplaudem estas demonstrações de pirotecnia, da falsa sinalética, dos seguranças que não permitiram a evacuação imediata dos presentes sem antes efectuarem o seu pagamento... Uma coisa é certa, com ou sem culpados definidos, ninguém devolve aqueles que partiram às suas famílias nem consegue retroceder no tempo para evitar a situação. Esperemos é que esta história trágica sirva de lição a muitos estabelecimentos afim de se evitarem males como este ou piores.

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