terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Rainha Beatrix, o príncipe herdeiro, Portugal... alguma coisa aqui não está a fazer sentido.

A rainha Beatrix da Holanda abdicou do trono para o seu filho e príncipe Williem-Alexander, a noite passada, tendo afirmado que estava na hora de "dar lugar às novas gerações" e que tanto o príncipe herdeiro e a nora estão "prontos para assumir essas responsabilidades".

Beatrix dos Países Baixos, assim reconhecida internacionalmente, nasceu em Baarn,  na Holanda, no dia 31 de janeiro de 1938. Foi corada rainha em 1980, após abdicação da mãe, a rainha Juliana, e vai dar coroar como rei o seu filho primogénito a 30 de Abril deste ano, no dia em que se comemora o dia da rainha na Holanda. Ficou também muito conhecida pelas leis pioneiras que tornaram o país holandês como o mais liberal do mundo: a legalização da eutanásia, do aborto, da prostituição, do consumo de drogas leves e do casamento e adopção para casais homossexuais.

Embora os holandeses já esperassem por este comunicado de Beatrix, a renúncia ao trono veio reforçar a ideia de que o novo rei irá representar bem uma nova geração com novos interesses e novas soluções para o país. Além disso, Williem vai ser o primeiro rei da Holanda desde o fim do século XIX.

Os Países Baixos são governados por uma monarquia constitucional independente desde a constituição de 16 de Março de 1815. Como se pode ler na Wikipedia:

"Na linha de sucessão ao trono holandês, existe igualdade de primogenitura. Ao contrário de outras monarquias da época, a Lei Sálica não foi aplicada nos Países Baixos desde a concepção da monarquia em 1814. A Constituição de 1814 estabelece que o filho mais velho do monarca iria sucedê-lo, e caso não existisse filhos, passaria para os irmãos do monarca. Só quando houvesse uma completa falta de homens na família mais próxima, seria a filha mais velha do monarca a lhe suceder. A Constituição de 1887 alterou ligeiramente, para que pudesse também ser incluídas as filhas dos irmão do monarca. Em 1983, os Países Baixos aprovou integralmente a primogenitura linear e igualitária entre os sexos (o filho mais velho é herdeiro)".

Uma interessante maneira de verificar a forma de governar de um povo aqui quase ao lado. Embora não seja adepta das monarquias, seja qual for o sistema que nela se integra, este regime tem sido muito acarinhado pelos holandeses e emigrantes que lá vivem. O que sustenta a minha tese de que o importante, antes de tudo o mais, é saber governar um povo, fazendo-os respeitar as leis do país e dando-lhes o que precisam para serem felizes.

Não me converteria tão facilmente ao facto de trocarmos o Dr. Aníbal Cavaco Silva pelo D. Duarte Pio, duque de Bragança. Ainda que estejam numa linha semelhante, existem grandes diferenças entre um e outro. Contudo, e embora algumas vozes se façam ouvir em contrário, um chefe de estado deveria fazer-se ouvir mais vezes e intervir mais nos assuntos que passam pelas suas mãos. É que em Portugal confundimos muito o sentido de intervir com o ser protagonista ou antagonista. Há quem defenda que o Presidente da República representa apenas mais uma peça ornamental do jogo e, por isso, deve cingir-se às suas funções de árbitro da partida. Embora Cavaco Silva seja o chefe de estado de Portugal com mais vetos políticos da história da nossa república, está longe de representar o povo português. E ainda assim foi o eleito democraticamente pela maioria (discutível).

Beatrix faz 75 anos, Cavaco faz 74. Ambos acompanharam diferentes gerações e diferentes problemas de ordem política, económica e social. Holanda é um pais teve de se refazer do pós-guerra, recriando cidades devastadas pela guerra e libertando-se de estigmas para que os seus habitantes vivessem em liberdade e harmonia. Portugal é um país que se teve de refazer do domínio fascista e que utilizou os apoios financeiros europeus para o seu desenvolvimento a nível de obras públicas, bem como para encher os bolsos a uma classe política e banqueira bem conhecidas.

A diferença está entre os dois regimes políticos das nações que Beatrix e Cavaco representam? Sim e não. Enquanto uns trabalhavam para o progresso do seu país, outros foram destruindo internamente o seu país ao desviar dinheiros públicos até não poder mais, com políticas inapropriadas para o crescimento da economia e a aumentar burocracias que entopem os tribunais. A propagação desse sistema corrupto ao longo dos anos é que originou estas fissuras tão grandes que são, no incomparável (pois um é eleito por sufrágio e outro é eleito hierarquicamente), precisamente comparáveis nestes termos entre sucesso e fracasso, sistema funcional e sistema corrompido. Ou seja, Holanda e Portugal.

Estará na hora de dar lugar às novas gerações? É que em Portugal temos vindo a verificar (impossível de não sentir na pele) com o mandato de Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro português, que as esperanças de Beatrix não funcionaram muito bem connosco ("dar lugar às novas gerações", "prontos para assumir essas responsabilidades"). Estará a Holanda a tomar as rédeas de uma nova fase política inovadora e próspera ou Portugal a dar sinais de incapacidade política, económica e intergeracional?

As vítimas do fogo de artifício e da boate sem alvará

A tragédia que ocorreu na madrugada entre 26 e 27 de janeiro, numa boate nocturna do Brasil, que ditou a morte de mais de 200 pessoas (quase todas estudantes da universidade local), tem sido bastante divulgada pelos meios de comunicação social nacionais e internacionais. O falecimento, por si só, é uma matéria dolorosa e psicologicamente difícil de dirigir. E o acontecimento, por si só, tem contornos únicos que fizeram com que a lei, os media e as sociedades determinassem o debate sobre este assunto como prioritário durante estes dias.

Tudo ocorreu por volta das 2h30 da noite de sábado para domingo. A Boate Kiss constituia o local escolhido para a festa "Agromerados" dos estudantes da Universidade  Federal de Santa Maria, com um cartaz de artistas  bem ao gosto dos universitários. A Gurizada Fandangueira, uma das bandas mais sonantes do cartaz, é conhecida pelos efeitos visuais e pirotécnicos nos seus espectáculos. E tudo indica que foi durante a actuação desta banda que o incêndio que provocou a morte de 232 estudantes deflagrou. Sobreviventes da tragédia referem ter sido após o início do lançamento do fogo de artifício que o tecto começou a incendiar e se propagou pelo resto da sala, bem como o fumo e o pânico dos presentes.

A boate onde tudo aconteceu não tinha licença desde Agosto passado. Estaria, por isso, obrigada por lei a não abrir portas ao público. Porém, isso não aconteceu e a prova de que se consegue contornar a lei está aqui. De Agosto a Janeiro vão cerca de cinco meses de funcionamento ilegal, sem qualquer tipo de problema. Além disso, testemunhos do incêndio dizem ainda que o espaço estaria com sinalética errada, apontando a saída de emergência para as casas-de-banho, ou seja, para o lado errado da única saída existente no espaço. Outros afirmam também que essa única saída esteve bloqueada ao início pelos seguranças, como forma de obrigar os estudantes a fazerem o pagamento antes de abandonarem o local.

A fiscalização dos estabelecimentos nocturnos nem sempre são efectuados e seguidos à letra. O dono da Kiss, no seu depoimento, afirmou que não tinha alvará legal mas que estava em processo de renovação. Ora isto, a ser verdade, precisa ser revisto e analisado aos olhos da lei para que sejam aprovadas responsabilidades. Bem como o facto da utilização de materiais de pirotecnia, pelos membros da banda, em locais públicos fechados.

Não consigo imaginar o caos e o pânico daqueles jovens... O tentar fugir sem saber para onde, o querer sair sem ser permitido, a dificuldade em tentar ter sangre frio e evitar a inalação do fumo, a preocupação de não deixar os seus para trás... E tudo isto multiplicado por cada pessoa que estava presente a fugir para todas as direcções e aos gritos e aos encontrões e... entre mortos e vivos, a tentar lutar pela sua sobrevivência.

O Brasil acordou na manhã seguinte em choque pela notícia. O luto foi decretado, a bandeira ficou a meia-haste e os pais das vítimas, bem como o país, choraram a morte dos jovens universitários que estariam supostamente, e apenas, a divertir-se numa festa.

E é por ser um caso que, ao ser repensado nas mesmíssimas condições num bar/discoteca de Lisboa, e a ter o mesmo desfecho, me preocupa ainda mais. Porque não é impossível e não está longe de um dia vir a acontecer. Somos um povo mais pacífico, até mesmo nas festas. Mas locais públicos fechados há a pontapés, assim como má sinalética e pouca segurança também. É certo que ninguém consegue prever acidentes destes, mas é sempre possível tentar evitar determinadas situações. Um concerto com pirotecnia precisaria de uma segurança ajustada, ou pelos menos, nunca deveria ter sido efectuado num espaço daquelas dimensões e fechado. E não é preciso ser-se muito esperto para perceber o porquê. O resultado ficou à vista.

E de quem é a culpa? Do dono sem alvará, do membro da banda que lançou os foguetes, dos fans da banda que aplaudem estas demonstrações de pirotecnia, da falsa sinalética, dos seguranças que não permitiram a evacuação imediata dos presentes sem antes efectuarem o seu pagamento... Uma coisa é certa, com ou sem culpados definidos, ninguém devolve aqueles que partiram às suas famílias nem consegue retroceder no tempo para evitar a situação. Esperemos é que esta história trágica sirva de lição a muitos estabelecimentos afim de se evitarem males como este ou piores.

domingo, 27 de janeiro de 2013

O dia devia ter 24 horas

Quem inventou o dia com 24 horas não sabia o que estava a fazer. Dividiu 12 horas para o dia, 12 horas para a noite e voilá, está despachado. Eu não sei quem foi o miserável que inventou isto, mas quase que aposto que não pertence à minha geração. Tem sorte por isso, acho que lhe fazia a folha.

Para mim o dia devia ter 24 horas. Não o dia total, mas sim o dia de luz solar. Depois até se podia juntar as 12 horas de luar, o que daria um resultado de 36 horas totais diárias, mas as contas faziam mais sentido deste modo. É que a luz do dia é indispensável para grande parte das actividades que se praticam na rua. E a luz do noite inevitável para que recuperemos o equilíbrio do nosso espírito. Por isso devia-se alterar o esquema das horas dos dias. E já agora o fuso horário também, não vá o mundo acabar um dia destes e depois morremos todos a horas diferentes.

Lá dizia o ditado: "dormir cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer". Se calhar por isso é que não sou lá muito grande, devia ter dado um pouco de atenção aos antigos dizeres. Mas nunca gostei de dormir cedo, o cantar dos passarinhos pela manhã é que me costuma dar sono. É que durante a noite reina uma paz incrível e é quando me surge a inspiração e a vontade de fazer tudo e mais alguma coisa.

O problema é que gosto tanto do dia como gosto da noite. Por isso sou contra as pessoas dormirem à noite como opção preferencial. E é por isso que reclamo mais horas ao nosso dia, para que possa dormir no turno que quiser e ainda me restar tempo para fazer o que tenho a fazer.

Serei a única a pensar desta forma?

sábado, 26 de janeiro de 2013

A manifestação como forma de festejar

A palavra manifestação tem sido cada vez mais utilizada em substituição da palavra protesto, como se de um sinónimo se tratasse. Com as devidas semelhanças e diferenças, esta tarde, ouvi da boca de um jornalista que, se não soubesse que o era, diria muito provavelmente que tinha sido um Ricardo Araújo Pereira, um Nilton ou um Pedro Mexia, uma expressão que parecia mais uma anedota dessas que se consomem e propagam pelas redes sociais, com direito a imagem composta por intervenientes e balões com falas.

Mas não, não era um comediante. Era um repórter da RTP1, em directo, a acompanhar o protesto dos professores, contra o governo e o FMI, que estava a decorrer em Lisboa. Uma manifestação que começou atrasada, para que eles vejam se não é o português que manda aqui. Após ter entrevistado uma docente com 20 anos de exercício profissional, que defendeu o ensino público com unhas e dentes, o jornalista terminou a conversação com uma expressão que devia ficar para a história dos directos dos media portugueses.

Eis o meu espanto quando oiço o jornalista dizer: «Muito obrigada e boa manifestação!».

«Boa manifestação»???! ...

Já todos sabemos que as manifestações sociais, como o próprio nome indica, envolvem pessoas que em comum lutam pelos mesmos direitos, ou em parte semelhantes. Existem muitos cânticos de protesto e palavras de ordem em cartazes e outras palavras menos elegantes proferidas mais alto. Se estão furiosos gritam e choram desalmadamente. Se estão muito entusiasmados, provocam polícias e fazem estragos por onde quer que passam. E se estão apenas para ver o acontecimento e acrescentar mais um número na lista dos presentes, levam as suas bejecas ou uma câmara fotográfica. E quando as manifestações se tornam constantes, muitos travam novos conhecimentos.

De facto, o senhor jornalista até que não disse nenhuma asneira. Em tudo se assemelha a uma festa. E se não fosse o facto de determinadas pessoas já se encontrarem no limite das suas forças, para tentar demonstrar através do seu protesto que já não aguentam tantas medidas estapafúrdias, até tinha tido o seu cunho de graça e de poder de intervenção naquele momento.

Mas não. «Boa manifestação» não é igual a «boa festa» e em jornalismo há que ter cuidado com as expressões que se utilizam. Apesar de ter a sensação de que a professora em questão agradeceu ao jornalista, eu agradeço aos jornalistas que em caso de não saberem o que dizerem, simplesmente não digam nada. Um chavão cunha uma pessoa para a vida inteira e determinadas situações são ridicularizadas com essa expressão. E eu não gostaria que uma acção tão séria como manifestar fosse confundida com o verbo festejar.

«Quanto custa a incultura?»

Ontem estive presente num debate intitulado "Quanto custa a cultura?", com André Gago (actor e escritor) e Pedro Almeida Vieira (escritor e ex-jornalista) como intervenientes, na Casa da Cultura, em Setúbal.

Eis as frases e expressões que apontei no meu bloco para reflectir:
- «Optimização dos rescursos... como se houvesse mercado que faça concorrência ao Estado»;
- «Cultura ornamental»;
- «Construiu-se muita cultura de tijolo»;
- «Subsídios para os artistas não são esmola nenhuma».

«O que é isto da cultura?», questionou-se várias vezes. «E o que é ser artista? São aqueles que fazem umas coisinhas de vez em quando ou aqueles que adoptam esse exercício como profissão?», reflectiu um senhor que assistia ao debate.

Entre questões de fundo, estruturais e políticas, a conclusão que se chegou, no final deste debate, foi que a cultura está completamente desapoiada a todos os níveis. Não existem fundos monetários suficientes para o desenvolvimento das actividades culturais, não existindo por isso forma de as organizações e companhias culturais crescerem e demonstrarem mais do seu trabalho; bem como não existe grande sensibilização para a cultura na área da educação, originando produtos sem consumidores.

A cultura tem sido muito importante para o nosso país nos últimos anos. E nós, portugueses, somos muito conhecidos internacionalmente por isso. A questão é que em Portugal nem conhecemos nem usufruímos dela. Citando André Gago, não passa de uma «cultural ornamental», capitais da cultura e exposições museológicas para inglês ver como somos «ricos» em tradição, mas na prática, a cultura é o ministério que mais sofre cortes atrás de cortes e é quase inexistente nas escolas.

As duas faces da moeda: espectáculo/público. Como referido durante a sessão de debate, os espectáculos que enchem e esgotam salas são as óperas e os pavilhões atlânticos. «Não há dinheiro para ir ao teatro», mesmo quando um bilhete não ultrapassa os 5€. «Mas há pavilhões esgotados para ver dj's, a 100€ mínimos de bilheteira. O que se está a passar aqui? Porque é que a prioridade passa por ver um artista que se pode ouvir todos os dias e não acrescenta nada de novo ao saber e à crítica, e não há sequer a vontade de gastar dinheiro ou perder tempo a assistir a uma peça de teatro? Talvez devêssemos repensar. As políticas culturais (se é que existem algumas) não representam as necessidades (eu diria interesses) do nosso povo. Estas novas gerações, em que por acaso também estou incluída, foram educadas para saber interpretar literatura, pintura, escultura, teatro, cinema... mas não foram incentivados especificamente a ir ver, a ir descobrir por si próprias... Não chegou para despertar o olhar de quase todos.

E de que modo se pode fazer chegar esta sensibilização cultural às gentes mais novas (e às outras gentes também)? As autarquias têm feito um papel madrasto na ausência da mãe, o Estado. Os subsídios que transferem para os agentes culturais locais têm ajudado apenas a sobreviver. Mas muito mal. Tal como foi indicado por alguém naquela sala, a troca de subsídios para aqui e convites de espectáculos para acolá corta a receita dessas pequenas produções, que por vezes mal chega para as suportar. Se o público existente é reduzido, mas os custos de bilheteira já são quase ao preço da chuva, o que falta mais para poder construir um público interessado e diversificado em conhecimento cultural?

Um outro senhor na plateia referia o seguinte: «Nesta guerra da cultura, o artista não tem o público do seu lado. O custo da cultura é a própria vida do artista, o tempo que ele lhe dedica». E eu concordo em parte. Ou melhor, totalmente. O problema é que existem artistas e artistas, e nem todos os artistas estão na disponibilidade de fazer mais pela sua própria profissão. Se todos reconhecemos a profissão de professor, político, pescador, economista, polícia... porque não se reconhece igualmente um artista pintor, actor, escultor, bailarino, escritor?

Na televisão, aqueles que lá passam um dia, são todos muito bonitos, seja qual for a profissão. Mas cá fora, na vida real onde tudo acontece, há muitos a viverem em casa dos pais ou a passarem fome. É uma vergonha que o Estado português não reconheça e apoie os seus. É uma vergonha que profissionais não se juntem solidariamente e se apoiem uns aos outros. E também é uma vergonha que as pessoas não se mobilizem para este tipo de questões, não percebam o que está em causa e nem o que estão a perder com a viabilidade desta crise sociocultural.





quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A febre do ask.fm



Há meses que vejo algumas pessoas a divulgarem nos seus murais de Facebook contas de uma determinada rede social chamada ask.fm.

Pelos comentários feitos nessas partilhas, logo me apercebi que era apenas mais uma daquelas redezinhas sociais para falarem de si próprios, exporem a vida dos outros e fazerem-se de vítimas.

Hoje, pela primeira vez, entrei na dita rede para me abstrair um pouco dos meus preconceitos sobre ela (ou para os acentuar ainda mais). Um perfil, uma pergunta e uma resposta, aliados a uma conta de Facebook, e está o pagode instalado. Não vi nada de interessante, nada que valesse realmente a pena o tempo que perdi a tentar compreender tamanha popularidade.

Juventude perdida... Só discussões, infâmias e ordinarices. Principalmente pela particularidade de se puderem colocar questões anónimas à outra pessoa. Pensei seriamente que os perfis falsos de Hi5, Youtube, Pinterest, Facebook, etc, que sempre circularam pelas redes, que obrigam a abertura de uma conta, conseguissem afastar este fenómeno do anonimato agressivo (pois mesmo utilizando contas falsas, o IP fica registado e a conta pode ser bloqueada). Mas poder simplesmente utilizar a rede sem um registo de conta, em pleno 2012/13 e afins, constitui um retrocesso em termos de identidade e privacidade no mundo das redes sociais.

Pessoalmente, tenho alergia a esse tipo de redes. Embora saibamos que a Internet é pública, e por isso tudo o que se posta, ainda que contenha máxima privacidade, é capaz de ser violada e vista por muitos, aderir a uma rede social dessas, com perfil e conteúdos públicos, na minha opinião, é totalmente insano. Ainda se utilizassem isso para saber se tal pessoa tem namorado(a) ou não, quais são os seus gostos, bancar o admirador secreto, ainda tinha a sua piada... mas os miúdos de hoje em dia só querem rir dos outros, armar confusões e parecerem os maiores.

O facto dos jovens portugueses terem aderido em massa a esta rede social, com estas características, e para estes fins, só demonstra o quão idiotamente foi criada esta próxima geração que vive das aparências e dos anonimatos. Imagino-os a fazerem um 25 de Abril no ask.fm: qual era mesmo a senha?o que é uma revolução?; não gosto de ver os militares com aquela roupa, super outforça aí na AR fdp's que eu agora vou dar uns tiros no CS; hoje deitaram o governo abaixo f***-**, brutal os videos que meteram no youtube.

Menos ilusões, mais actos. Têm dúvidas? Esclareçam-nas pessoalmente com as pessoas certas. Cobardia já se tornou adjectivo obrigatório do português mesquinho que só se interessa por este tipo de coisas. Uma febre doentia pelo querer saber dos outros, esquecendo-se que também têm vida própria e até poderiam fazer algo de interessante com ela, offline.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A cultura cultiva-se



É espantoso como determinadas pessoas sabem tanto sobre determinados assuntos. Dá gosto conversar com esse tipo de pessoas que sabem um pouco de tudo e, sobretudo, sabem manter uma conversa agradável. Nada cá de espertinhos com a mania que sabem. Estou a falar mesmo daquelas pessoas que se poderia ficar horas e horas a ouvir falar com toda a vontade do mundo, e de queixo caído.

Mas a cultura tem muito por onde se pegue.

Literatura, teatro, cinema, artes performativas, artes plásticas e visuais, etc, etc, etc... Era capaz de me ver profissionalmente em qualquer um destes mundos e ser feliz por isso. (Bem, retirando a parte das artes plásticas e visuais porque realmente não são o meu forte, mas que muito admiro e cada vez mais tenho vontade de aprender sobre). Mas sou apenas uma dandy nestes mundos. Tenho os meus interesses e aprecio aquilo que tenho vindo a conhecer.

Gostava de ser escritora. Desde cedo que esse bichinho me acompanha. Escrevia poesia e letras de música, mas com o iniciar da idade adulta deixei-me disso. Escrever sobre mim ou o que me rodeava estava a entedear-me. Talvez porque os nossos processos de mudança não nos permitam avaliar ainda o que está a acontecer, nem o que mudou. Então virei costas à escrita e disse-lhe um "até já", que ainda hoje me faz pensar se não foi uma despedida escusada. Entre estas mudanças perdi trechos que me fariam reflectir e avaliar todas as situações porque passei. Mas não me destinei a tal e, por isso, regressar agora aos poucos já é uma vitória.

 Não me lembro de ter comprado um livro com o propósito de me enculturar, tirando os livros de Uma Aventura ou o Memorial do Convento, exigidos na escola. É estranho sempre ter tido o gosto pela escrita e nunca ter tido a curiosidade de ler e conhecer outros autores. Da primária ao último ano do ensino básico, nunca nenhum professor disse na sala de aula que deviamos ler e cultivar novos conhecimentos. Nunca nenhum professor se disponibilizou a levar a turma à biblioteca e mostrar as diversas actividades que lá poderíamos encontrar. Nunca nenhum professor nos ensinou a sermos cultos. E se por um lado penso que realmente não têm obrigação de o fazer - porque esse bichinho deve vir de nós próprios e devemos ter a curiosidade de aprender o que é o mundo lá fora - por outro acho que os professores que tive durante nove anos de ensino básico se limitaram a debitar algumas coisas que eles próprios decoraram, e nem deviam saber bem o que estavam para ali a dizer. Se bem me lembro, eram mais as vezes que estávamos em feriado do que na sala de aula.

Mas pronto, isto tudo para dizer que - e sem intenção de estar aqui a criticar antigos professores - quando cheguei ao secundário, conheci um professor que fez toda a diferença. Ainda que não tivesse efeitos imediatos, constituiu uma referência que marcou a minha forma de estar perante as pessoas, os conhecimentos e as coisas. Era bastante culto. Sabia tudo o que lhe perguntássemos. Tinha classe, era um homem que sabia estar e, acima de tudo, tinha presença e sabia o que estava a dizer. Fascinou-me durante 3 anos o facto de uma pessoa ser tão culta. Pensava para mim como é que é possível alguém ter este conhecimento todo?. Nunca na vida iria chegar aos calcanhares deste senhor, nem sequer seria capaz de ler todos os livros que este homem já leu ou conhecer os lugares que ele já conheceu na vida dele. Parece que me estou a lembrar do primeiro dia de aulas... uma lavagem cerebral de todos os livros que já deviamos ter lido até ao 10º ano, e ninguém na turma tinha sequer ouvido falar sobre tais obras... Elíada e Homero? Que raio de nomes.... pensei logo. E ainda não os li. Sem tempo, sem vontade, sem curiosidade... na altura. Mas hoje tenho o desejo de formular um saber literário devidamente composto e ter estas referências como base. Creio que em breve já terei condições de formular um post sobre estas obras.

Entretanto, o choque que se sente está na primeira vez em que se mete os pés numa sala de aula do ensino superior. A preparação, isto é, o saber estar e as aprendizagens que devíamos trazer do secundário são, afinal, muito escassas comparativamente ao que é exigido no nível superior. E somos confrontados com mil e quinhentos autores e obras e citações sem fim.

Porém, quando chegamos ao mundo do trabalho (e principalmente agora nos tempos que correm) encontramos duas novas realidades. Afinal tudo o que aprendemos não serve de nada em determinadas ocupações e, noutras situações, o que sabemos é muito pouco para aquilo que é exigido.

Agora, embora com um curso superior, sinto-me ainda mais inculta que muitas pessoas, algumas mais novas, outras mais velhas. Não conheço parte das obras literárias mais famosas, lá reconheço um outro nome de realizadores de cinema mas não sei referir que filmes realizaram, já domino algumas técnicas de interpretação das artes performativas mas não chego aos calcanhares dos que se profissionalizaram nessa área, também já me predisponho a observar obras de arte (fotografias, pinturas esculturas) e a tentar interpretá-las mas achando que ainda conheço pouco da área...

Enfim, sei um pouquinho de tudo mas na realidade não sei nada. E não faço parte daquele grupo de pessoas que dá gosto de ouvir, porque não domino realmente estes temas. Mas pelo menos já percebi que me integro naquele grupo de pessoas que sabe e tem muito jeito para ouvir. E isso, já é uma coisa boa. O contacto com outras pessoas já me trouxe muitas alegrias e transformou o meu saber. Não preciso ser pró numa determinada questão, mas se sou nem eu própria sei. Apenas penso que devo continuar com o meu livro de páginas brancas em aberto, para que, por mim e/ou por outros, possa vir a saber sempre mais e um dia tornar-me num tipo de pessoa que sempre quis ser: alguém que sabe de tudo um pouco, sabe conversar, sabe estar e dá gosto ouvir falar. E isso não está longe nem é impossível se não deixar de cultivar a minha cultura.

Tenho dificuldade em começar a escrever...



Uma das expressões que mais ouvi durante todo o meu percurso escolar e académico, foi exactamente esta: "tenho dificuldade em começar a escrever".

Como forma de desmistificar este "papão das palavras", resolvi abordar a questão que a muitos incomoda e a outros tantos serve de desculpa para não escrever. Parte dos fundamentos que apresento em seguida, baseiam-se na frequência de um workshop de "escrita criativa" que realizei há uns meses, algo que me ajudou a compreender melhor o processo da escrita.

Assim sendo, não é a dificuldade de escrever que atormenta muita gente, mas sim a organização de todas as ideias que surgem num dado momento em que se vai escrever. O início deste processo é que constitui o ponto fulcral de todo o texto que se vai desenvolver em seguida. Tudo depende do tipo de narrativa que se pretende. Por exemplo, a estrutura de uma notícia é diferente da estrutura de um conto infantil, de uma carta, de um guião, de um relatório, de uma letra de música, e por aí adiante... Só após a escolha/definição do género literário é que se deve pensar o tema e a forma de o abordar, conhecendo e respeitando as normas para redigir tal texto.

Agora sim, vêm as indecisões e dúvidas existenciais. "Vou escrever isto. Hmm... é melhor não". "Ah, isto é capaz de ser boa ideia...  mas quem é que vai ler ou gostar disto?". "Tenho uma ideia brutal!!!... mas como é que eu explico? Bah, esquece". Até que... "Não tenho ideias para escrever, desisto".

Em primeiro lugar há que esclarecer que ninguém nasce a ter "ideias brutais" ou "escritos fantásticos". O processo da escrita é um processo de maturação de ideias, sejam eles factos, juízos ou ficção. É necessária tranquilidade e confiança naquilo que se pretende transmitir. Claro que há textos em que o tempo determina tudo, logo a criatividade é mais reduzida. Estou a falar das notícias e actualização de informações que não têm espaço para grandes invenções ou originalidades. Mas a outra grande parte de tipos de texto que existem merecem sempre uma atenção especial e uma revisão para que nada fique ao acaso e tudo faça sentido. Os escritores de livros, por exemplo, levam anos a fio para redigirem uma obra literária, tal como os grandes guionistas levam anos a redigir um bom guião. Tudo depende também da alma do artista, mas por natureza, as ideias precisam ser desenvolvidas para criar maior impacto no leitor, público alvo que todos os tipos de texto têm em comum.

A reflexão a retirar daqui, e apesar de muito generalista, é que a maior parte das pessoas se acomoda com a justificação "tenho dificuldade em começar a escrever" para, como em muito bom português se diz, "engonhar" ou simplesmente passar a "batata quente" a outro. Esta desculpa não é mais do que uma forma dos preguiçosos não fazerem o que lhes compete ou adiarem, como é hábito dos portugueses.

E essa foi uma postura que adoptei desde que entrei no ensino superior. Os trabalhos académicos que exigem uma escrita muito rigorosa e científica retiraram-me toda e qualquer inspiração para escrever poesia. Parecia que nada me surgia naturalmente, não tinha assuntos sobre os quais falar, e muitas vezes só a vontade de pegar num lápis "era tanta" que me ficava pelo pensar que poderia ter aproveitado esse tempo para poetizar e acabava por gastá-lo a não fazer nada.

Desde que acabei o curso de Comunicação Social, ramo jornalismo (que sempre exigiu muito rigor e escrita somente factual para a redacção de notícias), comecei a ouvir falar na nova geração de bloggers. Não só anónimos, mas pessoas conhecidas pelo seu trabalho que transmitem periodicamente as suas opiniões num blog individual e próprio para o efeito, à parte do seu trabalho/profissão. Fiquei curiosa, e ainda andei a espreitar alguns blogs de política e de desporto, mas rapidamente me cansei e só a preguicite de ter de escrever, levou-me a desistir da ideia. Também redigi duas crónicas no Homilítico (blog que criei para falar sobre política [mas a pensar seriamente em recuperá-lo]), mas dois posts chegaram para a "veia artística" se ir.

Porém, hoje, após a maturação de algumas ideias, decidi aventurar-me nesta blogosfera. Tenho como perspectivas principais, desenvolver a minha forma de escrita e construir um olhar opinativo sobre determinadas questões. Este crescimento, tenho a certeza, irá contribuir para as próximas vezes em que tiver de escrever um press-release ou uma notícia. Convido-vos desde já a manterem-se atentos aos próximos posts e, se a demora for muita, dêem-me uma "abuzinadela" para eu cumprir com o propósito deste blog

Já agora, se tiverem blogs mandem-me os vossos links para eu seguir. E se não têm, do que estão à espera? Sigam o meu exemplo (finalmente, a servir de exemplo) e lancem essa escrita. A diferença só é comparável após a mudança. 

Vamos ver se o "tenho dificuldade em começar a escrever" não se transforma em "tenho dificuldade em parar de escrever"!