Pena de morte, encerramento das fronteiras e nacionalidade única
A
França foi um dos últimos países europeus a abolir a pena de morte. A
abolição foi constitucionalizada em 1981, embora hoje em dia ainda
exista uma grande parte da população francesa que concordaria com a
anulação desta lei. A pena capital foi referida recentemente por Marine
Le Pen, líder da extrema-direita francesa pela Frente Nacional, como a
grande resposta às actividades terroristas futuras.
Os ataques terroristas em França alimentaram, então, a visão extremista de Le Pen e acenderam o diálogo sobre a pena de morte.
Marine
Le Pen defende também que o encerramento das fronteiras permite o
controlo da comunidade francesa. De uma forma clara, Le Pen quer
interditar saídas e entradas no país, como forma de evitar não só actos
radicais como os ocorridos esta semana, como evitar também a entrada de
comunidades emigrantes no território francês.
Aliás, à
luz da sua intenção de abolir ainda a nacionalidade dupla, os cidadãos
teriam que escolher qual a nacionalidade que pretendem representar e,
consequentemente, perder os direitos que acumulam.
Os
países europeus condenaram os actos terroristas praticados pelos
jihadistas radicais. Nós sabemos que eles agiram em conformidade com os
seus propósitos fanático-religiosos e políticos contra as blasfémias da
grande liberdade ocidental. E assim, Le Pen sugere simplesmente
retribuir com a mesma moeda: pena de morte. Então... serei só eu a
julgar que Le Pen é tão radical quanto os jihadistas que aterrorizaram o
estado democrático que ela defende? É que do ponto de vista da clareza
de ideias e ideais, não sei quem se acha mais lúcido nesta temática.
A
abordagem da pena de morte só demonstra que a líder da extrema-direita
prevê um futuro totalitário e fascista para a França. E entre as
demências dos jihadistas e a visão xenófoba desta senhora, se
eventualmente ela conseguir vencer as eleições presidenciais em 2016, eu
só consigo prever um futuro ainda mais obscuro para o país francês:
pânico social; descredibilização total das classes políticas e submissão
a uma única ideologia; e, claro, um retrocesso profundo em termos
civilizacionais e humanos, já para não falar das saídas obrigatórias da
França como estado-membro da União Europeia e do Conselho Europeu.
É
claro que eu dúvido que este cenário se torne realidade. No entanto, é
urgente que François Hollande adopte uma posição bastante justa face às
necessidades que o seu país apresenta, contando que o primeiro ministro
consiga dar a volta a esta crise de segurança que, a não parar por aqui,
trará também uma crise social ao país. A comparação entre actos
criminais isolados e actos terroristas deliberados poderá vir a ser
muito perigosa a curto e longo prazo, assim como a generalização entre comunidades e etnias.
Esta
é ainda a grande oportunidade para François Hollande fazer da França,
mais uma vez, o modelo a seguir em termos legislativos para toda a
Europa e aproveitar o agora para afastar das intenções de voto a sua
alternativa, grande concorrente: a extrema-direita. Para isso, Hollande
deve proteger os ideais republicanos de liberdade e igualdade contra a
tentativa de usurpação, interna e externa, em termos ideológicos e religiosos, do poder democrático.
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