Quem é Shiloh? Shiloh é nada mais, nada menos, do que uma filha de Angelina Jolie e Brad Pitt. Dos seis filhos do casal, Shiloh é a primeira criança biológica. Angelina e Brad têm 3 filhos adoptados e 3 filhos biológicos. Shiloh nasceu a 27 de Maio de 2006, em Namíbia. E, sem ser o facto de ser filha de pais famosos, talvez nunca fossemos ouvir falar dela.
Contudo, no mês passado os pais de Shiloh vieram publicamente pedir a todos que esquecessem o seu nome, e a começassem a tratar por John. John, que é um nome masculino e, portanto, tudo se torna confuso para algumas pessoas. Segundo o casal confirmou, Shiloh não quer ser tratada por esse nome e nem sequer o reconhece como sendo ela própria. Na verdade, Shiloh exige ser chamada por John, assim como é de sua preferência vestir roupas e fazer penteados de menino. Ou seja, Shiloh nasceu menina, mas desde muito cedo que sente ser um menino. Então pediu aos pais que a tratassem deste modo. O pedido foi aceite e foi também divulgado para que toda a gente deixa-se de olhar para ela como sendo uma menina, mas sim um menino.
Então John, o menino de quem estou a falar, é loiro e tem uns lindos olhos azuis, meio acinzentados. Nasceu menina, mas desde os três anos que revela gostar de se vestir com a roupa dos seus irmãos. De facto, quando Angelina o chamava de Shiloh, ele reiterava imediatamente ser John. A avó paterna, Jane Pitt, não gostava da maneira como a criança se vestia e, então, tentava convencê-la a vestir-se de modo diferente, comprando-lhe vestidos de princesas e de fadas. Angelina não gostava da persistência da sogra, irritando-se com as suas atitudes e demonstrando aos seus filhos que eles poderiam ser quem quisessem ser. E, assim, com respeito e compreensão, apercebendo-se que não se tratava apenas de uma fase, o casal Jolie e Pitt resolveu demonstrar em público como se deve lidar com uma situação tão delicada e séria deste género, dando o exemplo do seu filho.
Há algum tempo atrás, escrevi aqui um artigo sobre o facto do país alemão dar a hipótese de registar os bebés recém nascidos sem identificar o sexo. (ver artigo: Alemanha regista bebés com "sexo indefinido". No entanto, no caso de John que foi registado como sendo uma menina, terá de esperar muito provavelmente até à idade adulta para poder alterar a sua identificação legalmente e, se assim for o seu desejo, como parece que é, avançar com todos os procedimentos de modificação hormonal. Contudo, segundo refere uma psicóloga ao Telegraph, ainda que a criança se identifique com o género oposto, esta pode vir a identificar-se como trangénero ou explorar os dois géneros. E o mais importante nesta situação, e em todas as outras que possam existir no mundo, é a aceitação da criança como ela é, dando-lhe a liberdade de ser o que quiser e poder explorar a sua sexualidade.
A identidade de género é a percepção que a pessoa tem de si própria. Transgénero é a identidade de género utilizada pelas pessoas que não se identificam com o género com que nasceram ou que se identificam com ambos. Ou seja, o sexo biológico ou genital não coincide com a realidade dos desejos, pensamentos e acções de alguém.
A título de exemplo, em 2012, na Argentina, foi decretada uma lei pioneira que garante a alteração do nome, sexo, fotografia e documentos de identificação para qualquer pessoa que, com mais de 18 anos, considere ter um género diferente daquele que apresenta na sua certidão de nascimento. Para isso, basta apenas autodeterminação do próprio indivíduo. Um pouco antes, ainda no governo de Sócrates, também se discutia um projecto de lei sobre a identidade de género, que a 16 de março de 2011, passaria a reconhecer este direito aos transgéneros portugueses. A nova lei portuguesa previa, assim, a apresentação de um relatório médico assinado por dois profissionais da área da saúde, exigido por lei, e um requerimento em que o próprio indivíduo declare a sua intenção na alteração de género. No próximo dia 14 de janeiro de 2015, a Assembleida da República irá debater sobre a introdução da identidade de género no Código do Trabalho de forma a garantir também que a legislação proteja todas as pessoas «trans» no local de trabalho.
Pode ser que num futuro bem próximo, tenhamos mais conhecimento de outros Johns que estão por aí, felizes pela sua identidade de género modificada ou reconhecida, sem preconceitos, sem discriminação e com todo o amor e apoio das suas famílias. O importante é acreditar, dar o exemplo e continuar a lutar pelos direitos humanos de quem não pediu para se deparar com uma natureza diferente da sua ou com o julgamento dos que não entendem os seus pensamentos e desejos.
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