quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O preço da luta pela liberdade de expressão

O jornal satírico Charlie Hebdo foi alvo de um tiroteio, esta manhã em Paris, França, que vitimou mortalmente dez jornalistas e dois polícias. O atentado ocorreu pelas 11h30 quando três homens encapuçados, armados com metrelhadoras, entraram na redacção do jornal e atiraram contra os jornalistas. Segundo o New York Times, o tiroteio, protagonizado por prezumíveis jihadistas, teve cinco minutos de duração e fuga imediata dos executantes. Uma das cartoonistas do jornal testemunha que o grupo a obrigou a digitar o código de entrada do edifício e se reivindicaram como pertencentes à al-Qaeda.

Chalie Hebdo já havia sido alvo de uma bomba que destruiu por completo a antiga sede do jornal. O jornal assumia-se como um orgão de comunicação social independete, de humor negro em matérias muito controversas como a religião, a política e os próprios media. Na origem dos ataques estão os almanaques criados e publicados pelo jornal de forma a ridicularizar os jihadistas. Em 2006, o jornal incluíu na sua capa uma banda desenhada de Mahomé em que o humor negro foi alvo de duras críticas e vista como uma ofensa à religião muçulmana.

O jornal, que pretendia ser visto como uma reacção libertária, encontra-se neste momento inactivo. François Holande, primeiro ministro da França, declarou publicamente tratar-se de um «acto terrorista» contra a liberdade de expressão e mandou reforçar a segurança de outras redacções no próprio país, sendo que alertou igualmente aos países vizinhos para efectuarem igualmente um reforço nas sedes dos meios de comunicação social.

O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, tornou público o seu apoio para com os ideais franceses de liberdade e disponibilizou «assistência para fazer justiça face aos terroristas». Também Angela Merkel, Chanceler da Alemanha, reiterou que o acto significou «não só um ataque à segurança» dos cidadãos franceses, como representou ainda «um ataque à liberdade de expressão e liberdade de imprensa, que consiste num elemento fundamental da cultura democrática.

Por todo o mundo, milhares de cidadãos, jornalistas e cartoonistas estão solidários com a perda das vítimas e manifestam-se agora pelo direito à liberdade de expressão.


Em Portugal, vemos claramente estes ideais descritos na Constituição Portuguesa:

- Direito à Integridade Pessoal;
- Direito à Liberdade e à Segurança;
- Liberdade de Expressão e Informação;
- Liberdade de Imprensa e Meios de Comunicação Social;
- Liberdade de Consciência, de Religião e de Culto;
- Liberdade de Criação Cultural.

Mas em que ponto estará o país assegurado e preparado contra a violação destes valores e a um atentado deste tipo?

O Inimigo Público, publicação portuguesa que mais se assemelha ao jornal francês referido, demonstrou-se solidária e satiriza a situação referindo que, «quando os três terroristas forem caçados, serão levados a um tribunal onde poderão usufruir do privilégio democrático da liberdade de expressão antes de saírem condenados».



A minha questão é a seguinte: Até quando a religião será motivo para matar?

Por todo o valor que a liberdade de expressão e liberdade de imprensa implicam, sublinho a minhas condolências com quem perdeu hoje a vida como preço da luta da reivindicação de um direito constitucional já adquirido e afirmo total convicção nos ideais de liberdade que a França representou e conquistou pioneiramente na sua Revolução, em 1789.

JE SUIS CHARLIE.

Sem comentários:

Enviar um comentário