Estava a fazer scroll pelo feed do Facebook quando encontrei um vídeo que captou a minha total atenção. Anna Lee Gruenwald, uma rapariga de nacionalidade peruana que decidiu contar a sua história de vida de um vídeo público. Anna foi abusada sexualmente e encontrou na auto-mutilação a solução para esquecer os seus problemas. O objectivo principal da sua mensagem é chegar ao maior número de pessoas que sofreram do mesmo género de abusos que não estão sozinhas e transmitir, através do seu testemunho, o quão importante é erguer a voz e agir perante situações desta natureza.
Assim que me deparei com a publicação, os meus olhos foram para o final da descrição do video, onde se pode ler Stay strong! (Sê forte!). Não levei nem cinco segundos a clicar no play. Nos primeiros momentos do vídeo senti que, muito corajosamente, estava ali uma história pessoal a ser revelada, após tantos anos em silêncio. E pensei para mim própria que "é preciso ter muita força e coragem" para ultrapassar todas as situações que ela passou e, ainda assim, dar a cara por isso.
Os relatos do vídeo
Anna foi abusada sexualmente pelo padrasto e guardou isso em segredo, sem contar para a própria mãe. Ela sentiu repulsa pelo que tinha acontecido mas também dela própria. Então começou a automutilar-se, até ao dia que a expulsaram da escola pela posse de uma arma que servia esse propósito. A mãe, que desconhecia toda a história, não compreendia o comportamento da filha e internou-a num hospital psiquiátrico. Anna conheceu, nessa altura, muitas outras pessoas que passaram pelo mesmo e agiam de igual forma. Quando o internamento acabou, e ela voltou para casa, decidiu contar a mãe toda a verdade, e esta por sua vez convenceu a filha a reportar o caso as autoridades. Infelizmente, o caso já tinha ocorrido há algum tempo e não haviam provas que pudessem abrir o caso. Na tentativa de esquecer estes acontecimentos, Anna saía a noite para se divertir. Numa dessas noites, um rapaz que era supostamente seu amigo agarrou-a e forçou-a a uma relação sexual totalmente não consentida. A mãe, que apareceu a meio do sucedido, ainda conseguiu afastá-lo e fotografar todos os indícios do crime para apresentar queixa na polícia. O último agressor, além das marcas físicas e psicológicas que lhe deixou, ainda a difamou pela escola, a dizer que ela era uma puta e dormia com todos. Anna tinha medo. E acabou por voltar aos sentimentos de culpa e consequentes actos de mutilação. Por esse motivo, deu entrada muitas vezes nos hospitais e precisou de mais acompanhamento e tratamento psicológico. Passado o trauma, Anna refere ser completamente saudável e feliz com a vida que leva actualmente, e com isso, e ter ganho a coragem necessária para falar publicamente e poder ajudar outras pessoas que tenham passado ou que estejam a passar pelo mesmo que ela passou.
Depois de conhecer esta história de vida, escrevi um breve post no meu mural de Facebook, mas achei que merecia muito mais respeito e esclarecimento do que isso. Então resolvi transcrevê-lo e aprofundá-lo com um artigo no blog, pois tenho total consciência de que um testemunho destes não pode ficar esquecido pelo tempo num feed de uma rede social. E assim compartilho este relato que, de muitas maneiras, pode ajudar outras vítimas a levantar as suas vozes contra todos os tipos de abuso. E também para que todos os pais e familiares possam compreender melhor as atitudes, e o consequente comportamento, que os seus filhos adoptam, sendo que, à primeira vista, parecem não ter qualquer tipo de problema. Aliás, o problema está em não haver um diálogo aberto e sincero que permita aos pais e filhos debater sobre estas questões com liberdade, sem medos e sem receios de serem julgados. O primeiro indício pode ser esse mesmo, a recusa no diálogo, pois o relembrar destas situações já representam, por si só, um grande sofrimento.
Então, mais do que ajudar as vítimas no depois, também é importante tentar prevenir estas situações. Ter conhecimento dos abusos e ficar calado e consentir estes actos. É hora de acabar com o abuso sexual e de quebrar com esta culpa psicológica e emocional, que transtorna apenas a vitima. Espero que a justiça possa intervir e agir o mais rapidamente contra os agressores.
Se vocês conhecerem alguém com um caso semelhante, denunciem e reportem as autoridades. Tentem prestar todo o auxilio possível a vitima, o choque e o trauma não lhe vão permitir continuar a ser as mesmas pessoas. É necessário todo um acompanhamento que lhes faça ver que ainda há uma forma de continuarem as suas vidas e que o a auto-mutilação e/ou o suicídio não são, nunca, as únicas soluções existentes.
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