segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Falar e escrever bom português (também aplicado ao jornalismo)

Saber ler e escrever é algo fantástico. É como uma janela para o mundo. Quem aprende as regras torna-se num pequeno engenheiro letrário, capaz de interagir com tudo um mundo desconhecido através de uns simples rabiscos.

Há cerca de 100 anos atrás, Portugal era um país analfabeto. Poucos eram os que sabiam ler ou escrever ou as duas coisas. Durante o Estado Novo, a chamada 4ª. classe já contava com um aumento significativo de alunos. Mas foi então que, em meados da década de 70, se pôde notar o desenvolvimento de um novo paradigma na área da educação. "Ir à escola" tornou-se uma obrigação obrigatória e desculpas como "o menino não dá para a escola, por isso foi trabalhar", deixou de ser justificação. E foi essa educação, por via do ensino primário e dos ciclos, que deu as bases da escrita e do conhecimento geral para os adultos do presente que se arrasta.

Contudo, a actual premissa do "todos sabem ler e escrever" é discutível. Saber ler é mais do que juntar as letras e soletrá-las. Saber ler implica compreender, interpretar. Implica um raciocínio do sujeito, nem que se dê apenas por uma fracção de segundo, e sem precisar da noção implícita de que se está a praticar um desenvolvimento de ideias (ou um confronto de significado com informações previamente adquiridas).

Ler um artigo de jornal juntando apenas o som às letras não lhe dá significado nenhum. É o contexto em que são organizadas as palavras que lhe dá o conteúdo informativo. Ainda assim, é o jornalista quem deve aprimorar o discurso narrativo, de forma a ser compreensível e, mais do que isso, transmita todos os factos para que o leitor desenvolva um raciocínio crítico e interprete consoante a sua visão do assunto. Isto é, não ficar apenas pela leitura, mas também meter o cérebro a funcionar.

Mas eis que chegámos ao século XXI. Num curto espaço de tempo, o digital passa a fazer parte do quotidiano e ler e escrever passou a ter um lugar de destaque na agenda pessoal de qualquer cidadão comum. O jornalismo também migrou para o digital e, desde então, nunca tantas bacuradas foram escritas e/ou interpretadas. É fantástico. As notícias estão à beira de um clique e aqueles 2 ou 3 segundos que distanciam o título da notícia por inteiro tornam-se cruciais para uma informação mais segura.

Porém... não existe coisa mais irritante do que o próprio título da notícia estar mal escrito! Um artigo que passa pela revisão do editor não deveria ser publicada com erros ortográficos. Isto porque, esquecendo o editor que nem sempre é achado nesta conversa, um título mal escrito pode dar origem a mal entendidos ou simplesmente tirar a vontade ao leitor de ler efectivamente a notícia.

Não. Não estou a dizer que o digital é o culpado de todos os males.  Mas neste caso específico, o digitalizar «num fast», não consiste num factor positivo. E esse foi exactamente o meu caso, como consumidora de notícias e profissional da área, e também porque não consigo ficar à margem do meu raciocínio crítico.

Resumindo, se os media ainda não entenderam a gravidade da publicação de conteúdos informativos sem revisão, talvez os leitores possam e tenham o dever de se demonstrar contra a deseducação que os meios de comunicação trouxeram ao pobre do ensino. (Isto é, se é que alguém se preocupa com isso...) !



* Este artigo foi escrito ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico, após a visualização da notícia do JN: ""Certificados de língua postuguesa credibilizam ensino"...


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