Há cerca de 100 anos atrás, Portugal era um país analfabeto. Poucos eram os que sabiam ler ou escrever ou as duas coisas. Durante o Estado Novo, a chamada 4ª. classe já contava com um aumento significativo de alunos. Mas foi então que, em meados da década de 70, se pôde notar o desenvolvimento de um novo paradigma na área da educação. "Ir à escola" tornou-se uma obrigação obrigatória e desculpas como "o menino não dá para a escola, por isso foi trabalhar", deixou de ser justificação. E foi essa educação, por via do ensino primário e dos ciclos, que deu as bases da escrita e do conhecimento geral para os adultos do presente que se arrasta.
Contudo, a actual premissa do "todos sabem ler e escrever" é discutível. Saber ler é mais do que juntar as letras e soletrá-las. Saber ler implica compreender, interpretar. Implica um raciocínio do sujeito, nem que se dê apenas por uma fracção de segundo, e sem precisar da noção implícita de que se está a praticar um desenvolvimento de ideias (ou um confronto de significado com informações previamente adquiridas).
Ler um artigo de jornal juntando apenas o som às letras não lhe dá significado nenhum. É o contexto em que são organizadas as palavras que lhe dá o conteúdo informativo. Ainda assim, é o jornalista quem deve aprimorar o discurso narrativo, de forma a ser compreensível e, mais do que isso, transmita todos os factos para que o leitor desenvolva um raciocínio crítico e interprete consoante a sua visão do assunto. Isto é, não ficar apenas pela leitura, mas também meter o cérebro a funcionar.
Mas eis que chegámos ao século XXI. Num curto espaço de tempo, o digital passa a fazer parte do quotidiano e ler e escrever passou a ter um lugar de destaque na agenda pessoal de qualquer cidadão comum. O jornalismo também migrou para o digital e, desde então, nunca tantas bacuradas foram escritas e/ou interpretadas. É fantástico. As notícias estão à beira de um clique e aqueles 2 ou 3 segundos que distanciam o título da notícia por inteiro tornam-se cruciais para uma informação mais segura.
Porém... não existe coisa mais irritante do que o próprio título da notícia estar mal escrito! Um artigo que passa pela revisão do editor não deveria ser publicada com erros ortográficos. Isto porque, esquecendo o editor que nem sempre é achado nesta conversa, um título mal escrito pode dar origem a mal entendidos ou simplesmente tirar a vontade ao leitor de ler efectivamente a notícia.
Não. Não estou a dizer que o digital é o culpado de todos os males. Mas neste caso específico, o digitalizar «num fast», não consiste num factor positivo. E esse foi exactamente o meu caso, como consumidora de notícias e profissional da área, e também porque não consigo ficar à margem do meu raciocínio crítico.
Resumindo, se os media ainda não entenderam a gravidade da publicação de conteúdos informativos sem revisão, talvez os leitores possam e tenham o dever de se demonstrar contra a deseducação que os meios de comunicação trouxeram ao pobre do ensino. (Isto é, se é que alguém se preocupa com isso...) !
* Este artigo foi escrito ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico, após a visualização da notícia do JN: ""Certificados de língua postuguesa credibilizam ensino"...
Contudo, a actual premissa do "todos sabem ler e escrever" é discutível. Saber ler é mais do que juntar as letras e soletrá-las. Saber ler implica compreender, interpretar. Implica um raciocínio do sujeito, nem que se dê apenas por uma fracção de segundo, e sem precisar da noção implícita de que se está a praticar um desenvolvimento de ideias (ou um confronto de significado com informações previamente adquiridas).
Ler um artigo de jornal juntando apenas o som às letras não lhe dá significado nenhum. É o contexto em que são organizadas as palavras que lhe dá o conteúdo informativo. Ainda assim, é o jornalista quem deve aprimorar o discurso narrativo, de forma a ser compreensível e, mais do que isso, transmita todos os factos para que o leitor desenvolva um raciocínio crítico e interprete consoante a sua visão do assunto. Isto é, não ficar apenas pela leitura, mas também meter o cérebro a funcionar.
Mas eis que chegámos ao século XXI. Num curto espaço de tempo, o digital passa a fazer parte do quotidiano e ler e escrever passou a ter um lugar de destaque na agenda pessoal de qualquer cidadão comum. O jornalismo também migrou para o digital e, desde então, nunca tantas bacuradas foram escritas e/ou interpretadas. É fantástico. As notícias estão à beira de um clique e aqueles 2 ou 3 segundos que distanciam o título da notícia por inteiro tornam-se cruciais para uma informação mais segura.
Porém... não existe coisa mais irritante do que o próprio título da notícia estar mal escrito! Um artigo que passa pela revisão do editor não deveria ser publicada com erros ortográficos. Isto porque, esquecendo o editor que nem sempre é achado nesta conversa, um título mal escrito pode dar origem a mal entendidos ou simplesmente tirar a vontade ao leitor de ler efectivamente a notícia.
Não. Não estou a dizer que o digital é o culpado de todos os males. Mas neste caso específico, o digitalizar «num fast», não consiste num factor positivo. E esse foi exactamente o meu caso, como consumidora de notícias e profissional da área, e também porque não consigo ficar à margem do meu raciocínio crítico.
Resumindo, se os media ainda não entenderam a gravidade da publicação de conteúdos informativos sem revisão, talvez os leitores possam e tenham o dever de se demonstrar contra a deseducação que os meios de comunicação trouxeram ao pobre do ensino. (Isto é, se é que alguém se preocupa com isso...) !
* Este artigo foi escrito ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico, após a visualização da notícia do JN: ""Certificados de língua postuguesa credibilizam ensino"...
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